foto Simone Mattos - reunião final na EM Paula Buarque
O Projeto ESCOLA DA PAZ, trabalhando o conceito de CIDADANIA ESCOLAR, visa a resgatar a autoridade dos pais, o respeito à escola e o senso de protagonismo dos alunos, que passa por obediência e compromisso. Saiba como funciona no Caderno de Apresentação e Orientações, em link na coluna à direita. - - : denilsoncdearaujo@gmail.com
O PROJETO ESCOLA DA PAZ, POR MIM CRIADO, E NO QUAL ATUAVA EM REPRESENTAÇÃO DA VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DE PETRÓPOLIS, FOI ENCERRADO.SE VOCÊ O ESTÁ CONHECENDO NESTA VISITA, FIQUE À VONTADE E VISITE O BLOG. HÁ MUITA COISA QUE PODE SER ÚTIL A VOCÊ, À SUA FAMÍLIA E À SUA ESCOLA. FOI UMA AVENTURA MUITO LINDA. COMPROVE.ESTAMOS REPENSANDO UM OUTRO MODELO A SER IMPLANTANDO, COM PARCERIA DA OSCIP "REVIVAS".POR ORA, SE DESEJAR ACOMPANHAR AS MINHAS ATIVIDADES E PALESTRAS, VÁ AO MEU BLOG PESSOAL: http://denilsoncdearaujo.blogspot.com/Obrigado! DenIlson Cardoso de Araújo.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

SONHOS EM JOGO

 
Denilson Cardoso de Araújo

  A falta de comando das manifestações – civicamente belas em sua maioria - nos faz adentrar terreno muito perigoso. Estar na rua como objetivo em si. Manifestação, não como meio tático que sempre foi, mas como alvo a realizar. Vimos que, recolhidos os pacíficos, e sem policiamento adequado ao que estava por vir, os vândalos de carteira, os punks de profissão, os canhestros revolucionários giratórios, os anarquistas violentos, e mesmo os simples bandidos aproveitadores, fizeram valer sua fúria. Acuaram funcionários públicos, depredaram patrimônio público, destruíram e saquearam lojas.
 
  O PT nos fez retroceder às vésperas do século XX. Não tínhamos organizações da classe trabalhadora. As revoltas eram assim, pólvora espalhada que se acendia a um estalar de dedos, sem controle, por massas informes. Ao trair seus seus primeiros ideais, o PT sequestrou toda a estirpe de lutadores cujo pedigree herdara, e que o construíra, toda a história, todas as lideranças que em torno dele se agregaram, todas as organizações. Levou tudo, e amarrou ao pé da cadeira da Presidência. Por isso não se viu passeatas e revoltas contra o Mensalão. Os canais possíveis estavam obstruídos. E o Bolsa Família garantia silêncios na clientela de base.
 
  Os jovens de classe média tiveram o mérito de romper esse cerco e botar a boca no trombone. Mas eles não são uma organização. O Movimento Passe Livre não demonstrou capacidade de comando para o tamanho do que começou, e nem podia ser diferente. Certamente haverá meia centena de outros agrupamentos não tão visíveis, que estiveram aí pelas ruas. Mas não chegam a, juntos, constituir organização, com experiência e estrutura capaz de dirigir o que está por vir.
 
  Cabe-lhes dar um passo adiante e constituírem grande frente que, inclusive, proponha, sim, opções eleitorais. Não têm força para romper com esse mecanismo inevitável e necessário. Cabe-lhes perceber que a partir de agora o que desune essas massas da rua é mais amplo do que o que as uniu. Gritos de “Fora Dilma” parecem estranhos, ao lado de gritos pela liberação das drogas. Parecem esquisitos gritos que pedem redução de impostos, ao lado dos que pedem melhor Saúde. Parecem estranhos gritos contra “comunistas”, próximos aos gritos de “o Brasil acordou” manifestados por aglomerações de gente das elites que caminharam pelas ruas e vai sair dali pra marcar as férias em Miami. Gente que nunca usou transporte público e que não estará disposta a abrir mão do utilitário importado. Gente que foi apedrejar a Prefeitura  paulista usando camisas de marca importada, corpos de academia e máscaras contra gás que ao povo não é dado adquirir.
 
  Eu, que honrei e elogiei o manifesto de segunda-feira no Rio de Janeiro, me sinto autorizado a dizer - nessa extensão perigosa do movimento - que fascistas já puseram gente na rua também. O nazismo pôs muita gente na rua. Franco botou muita gente na rua. Gente na rua não é, por si só, signo de qualidade de nada. Gente na rua não é credencial de pureza ideológica e sequer de nobres propósitos. Massas humanas sem controle são imbecis. São linchadores. São depredadores. Linchadores e depredadores não fazem revolução. Fazem retrocesso, sempre fizeram.
 
  Preocupo-me com os jovens humildes que sentiram se abrir possibilidade de futuro mais digno. Preocupa-me que sejam usados, engolidos e esmagados. Porque, como ocorreu nos anos 1970, muita gente de classe média pode, após atear fogo ao circo, ir esfriar a cabeça em Paris, enquanto o menino da escola pública vai ter que amargar por aqui mesmo o pão que outros diabos lhe amassaram.
 
  Corre-se o risco de cometer, e é nesse território que adentramos, “ditadura” do pessoal das ruas, oprimindo os que precisam correr diariamente atrás do pão diário. Não podemos esquecer que estes governos estão feridos, mas mortos não estão. Não creio que ocorra, mas ainda teriam força para chamar os bolsões dos assistidos pelos seus programas sociais para irem também às ruas. E aí, ruptura completa. Enfrentamento e desastre. Espero que não se pretenda isso.
 
  É hora, inclusive, de dar descanso à militância mais aguerrida e consequente. Sim, porque movimentos como este, que dão tensão, adrenalina, e passam pela alegria, pela euforia, resultam em esgotamento emocional e físico. Há que recuar, para que energias se reponham, o físico se restabeleça, o coração se acalme e o cérebro tenha alguma chance de processar tudo isso. Vi muita coisa dar errado em movimentos longos, porque o cérebro não mais funcionava. E a racionalidade não pode ser vencida pela passionalidade inconsequente, por mais bem intencionada que seja.
 
  Temo, e digo com todas as letras, o risco de um cadáver. Um “Edson Luís” (o menino que foi morto pela polícia no Restaurante Calabouço nos anos 1960) nunca é bem vindo. Um cadáver jamais é bem vindo. Mas hoje, um cadáver, de menino ou de policial, seria a notícia pior que este começo de século poderia nos reservar. Macularia de luto  indelével as canções da primaveril Rio Branco de segunda-feira.
 
 Você, que participou, que organizou, que caminhou, rogo que pense nisso. Hora de recuo é hora de recuo. Bons exércitos sabem a hora de voltar ao acampamento para reorganizar o retorno mais certeiro ao front. Quem persegue adversário até o aniquilamento, muitas vezes penetra tão fundo no território inimigo, que acaba cercado, perde o caminho da volta, e é destruído.
 
  Há sonhos demais em jogo. E sonho é coisa preciosa. Não deixem que sejam destruídos por falta de humildade, liderança, solidariedade, senso de estratégia e comando. É hora de recuar e celebrar a vitória obtida. E preparar sobre essa brasa boa que se acendeu as fogueiras da aurora que pode chegar amanhã. Para isso é preciso juntar os gravetos. Há gente que já fez isso antes. Que sejam ouvidas. Os jovens não precisam reinventar a roda.
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Tão logo postei este texto, fiz o comentário seguinte numa troca de ideias no facebook. Vai aqui, porque reforça o raciocínio acima: - - - Existem coletivos que chamaram as manifestações. O único jeito é eles se reunirem e constituírem um comando para o recuo e estabelecimento de pauta para futuro avanço ordenado. Esse negócio de militante mascarado, ainda que de "V", é bonitinho e tal, mas é ridículo politicamente e pouco eficaz. Tem que mostrar a cara, ter nomes, ter responsabilidade. Botar bloco na rua é fácil, difícil é retirá-lo em ordem. E precisa ter humildade de ouvir quem já passou por isso. E aceitar, inclusive à mesa os partidos, sim. Mesmo que sejam segmentos de alguns partidos. Este exclusivismo utópico pode dar em nada. Ou pode dar em inocentes úteis.
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(esta crônica é um extrato que adequa o texto anterior
- "Entramos hoje em terreno perigoso - Sobre as manifestações"
- para publicação em jornal)

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