foto Simone Mattos - reunião final na EM Paula Buarque
O Projeto ESCOLA DA PAZ, trabalhando o conceito de CIDADANIA ESCOLAR, visa a resgatar a autoridade dos pais, o respeito à escola e o senso de protagonismo dos alunos, que passa por obediência e compromisso. Saiba como funciona no Caderno de Apresentação e Orientações, em link na coluna à direita. - - : denilsoncdearaujo@gmail.com
O PROJETO ESCOLA DA PAZ, POR MIM CRIADO, E NO QUAL ATUAVA EM REPRESENTAÇÃO DA VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DE PETRÓPOLIS, FOI ENCERRADO.SE VOCÊ O ESTÁ CONHECENDO NESTA VISITA, FIQUE À VONTADE E VISITE O BLOG. HÁ MUITA COISA QUE PODE SER ÚTIL A VOCÊ, À SUA FAMÍLIA E À SUA ESCOLA. FOI UMA AVENTURA MUITO LINDA. COMPROVE.ESTAMOS REPENSANDO UM OUTRO MODELO A SER IMPLANTANDO, COM PARCERIA DA OSCIP "REVIVAS".POR ORA, SE DESEJAR ACOMPANHAR AS MINHAS ATIVIDADES E PALESTRAS, VÁ AO MEU BLOG PESSOAL: http://denilsoncdearaujo.blogspot.com/Obrigado! DenIlson Cardoso de Araújo.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

ÓRFÃOS DO EXCESSO DE PAIS

Denilson Cardoso de Araújo

Em texto recente, disse eu, citando Djavan: “Pai e mãe, ouro de mina”. Únicos, raros, preciosos. Luzem cifras do metal dourado, como brilha o sol que o ouro inspira. Astro-rei é só um. Deviam ser um só em coesão e harmonia na construção da família. Únicos na vida da criança, em zelo, amor, disciplina e consciência. São raros. São ouro. Costumamos dizer sempre: “Mãe é uma só”. Respeitosamente, sacudimos a cabeça, confirmando. Mas, e pai?

Em certo momento, na Bíblia, se inscreve que multidão de conselheiros dá sabedoria. Salomão zela pela humildade do aspirante a sábio. Sabe-se lá se achava todas as mulheres tão conselheiras e sábias a ponto de delas tanto acercar-se... Fato é que deve ter descoberto que inflação de mulher desvaloriza o casamento. Monogamia é conquista civilizatória. Conquista da mulher. Conquista da família, que se faz destas boas raízes: pai e mãe.

Pais muitos ou excesso de mães podem exercer sobre filhos o mesmo desenlace desairoso que se abateu sobre o Rei Salomão. Excesso de diretrizes dá em perdimento de sabedoria, riquezas e Reino. A descendência de tantas mil mulheres cobrou partir-se em tantos mil cacos que dissolveram Israel. Assim vejo a situação atual. Famílias esfaceladas, descendências decadentes. Ruína moral, financeira, afetiva e psicológica.

Como chegamos a esta situação? Ficou fácil casar. Ficou fácil descasar. Operação de balcões, dispensa togas, cerimônias. Banalizou-se o casamento. Quase vésperas de casórios tipo Las Vegas, onde a noite de bebedeira dá em cerimônia de noivo Elvis e noiva Marilyn. Divórcio certo.

Nas escolas onde milito, quando vou explicar a necessidade de compreender a conjuntura da qual chegam aos professores os alunos que os agredirão, costumo elaborar a história que segue.

O casal se uniu, apaixonado. Consumiu este sentimento pueril em muito sexo. Veio um filho. Nascido, o homem requisita a mulher e, se normal ela for, a descobre, dividida em necessários carinhos ao rebento, com mais dores de cabeça. O homem suporta. Ama o filho, o acarinha. Mas é impaciente. Quer seus caprichos.

Um dia este homem amoroso pai, mas inconformado com a redução dos afetos que crê merecer, encontra no cafezinho a admirada colega que lhe dá conforto e colo. No chopp pré rush, repara. Bonita. Reparte o copo e a conversa. Há química. Um afeto. Mãos se tocam. Surge um bilhete. Um encontro furtivo. Lá vai o cidadão ao mesmo erro do início. A paixão novamente o arreia, desarmado.

Louca paixão que enlouquece o novo casal. Vorazmente se consomem os corpos que se procuram. O drama de consciência desfaz o casal anterior. A traída, magoada grita e reclama. Traição, a boca se amarga com a palavra. E separam-se, o filho observando da janela o pai que se vai.

Surge a companheira inevitável desses momentos. A imensa e sólida culpa que se abate sobre todos. A mãe, se culpa. Criará filho sem pai. Poderia ter suportado um tanto mais... quem sabe era só aventura, mas não, foi traição, aquele canalha! O homem que partiu, fica esquizóide. Ferve na paixão, murcha na lembrança do lar que deixou. Gosta da ex-mulher. Um dia, o burro segreda à mãe de seu filho, queria que você também tivesse a chance da alegria que estou tendo. Um idiota bem intencionado, machuca mais o coração da ex. Mas um dia percebe. Há um filho. E baixa a culpa. O filho, a parte mais frágil e menos considerada disso tudo, culpado se vê. Não verbaliza, sequer constrói alguma lógica sobre esse sentimento, mas sente. O que teria feito, que levou o pai a deixar o lar? Pergunta, abandonado na praça do mundo.

Nos intervalos da paixão o pai visita o filho, desregradamente. Dá em briga. Vai-se a um juiz. O pai quer ver o filho a qualquer hora. Teme perdê-lo. A mãe não consente. A sentença, pelo sim, pelo não, dá a visita quinzenal. Espaçado demais, protesta o pai. A assistente social o conforta com a frase mágica. O que importa, pai, não é a quantidade de tempo, é a qualidade do tempo que se passa com o filho. Uma luz se acende no coração desse pai esperançoso.

No primeiro fim de semana o pai recebe o filho. E mostra a sua péssima compreensão do que é “qualidade”. O filho tem banda de música, foguetes, bolo de aniversário fora de época, brinquedos irresistíveis, filmes violentos que não veria anteriormente, chocolate bastante. Estragos mil. A criança derrete-se, feliz. O pai se desmancha, feliz. Volta o filho à mãe, estragado de confortos, desregulado de horários, pilhado de filmes indevidos, uma semana de diarreia de chocolate excessivo. A mãe fica furiosa. Ele não pode comer tanto doce! Você sabe que não quero ele jogando esses games violentos, você sabe!

O pai, receoso, não querendo ver cortado qualquer item dos seus privilégios quinzenais, diz que vai corrigir os erros, que não se repetirá. Etc. No fim de semana seguinte, ele recebe o filho... e faz tudo igual! Banda de música, chocolate, festejos, mimos indevidos. Só que a tais erros ele acresce a fatídica frase em tom de cumplicidade pai e filho: não conta pra sua mãe não, tá? Ensina o filho a mentir! O filho não conta. Mas a mãe percebe que o guri está simplesmente a-do-ran-do o parque de diversões paternal. Ganha-lhe o filho, ela pensa. E cede. Permite coisas que não devia, para equilibrar a nefasta balança. A criança gosta. Tem dois adultos para manipular. Vamos piorar essa história?

Surge, ao lado do pai, a... madrasta! Ora, o sonho de toda madrasta é ser “boadrasta”. Ela olha pro menino que ela nem percebeu existir quando a paixão a cegou. Coça a cabeça... é... tem essa pequena encrenca aí né... será que vale a pena? Vale a pena, estou apaixonada, e a paixão pode tudo, conclui. Para manter seu homem, precisa conquistar a criança. Faz-lhe as vontades, cobre o menino de indevidos agrados. O pai fica feliz, a madrasta sonha ser chamada mamãe, e o menino fica bacana. Três adultos para manipular? Ele gosta! Quer piorar um pouco isso tudo?

A paixão... sempre sorrateira, atacou a desconsolada carente. Ela, descuidada, engravida do cavaleiro andante de araque. Surge do lado de cá, o padrasto! Já na gravidez, rusgas com o filho do outro, que reage ao desequilíbrio no seu reinado de adultos bobões. Se desentendem. Vias de fato. A paixão bota panos quentes. Mas quando nasce o filho mais novo, as coisas pioram.

Se é família humilde, o padrasto vira-se para a mãe, apontando o garoto que o rejeita e anuncia: “Não vou pagar comida para esse moleque não... não é meu filho!”. A mãe, desconsolada, vai ao pai, que agora, tem filhos novos por lá, paixão demais e dinheiro de menos. O filho do início, de imperador, descobre-se enjeitado de todos os lados. Um dia, o padrasto impõe. Não mora mais aqui. Dá teu jeito, mulher. E aquela mãe, sofrendo ainda a síndrome do anterior abandono, pensando em garantir o novo casório precário, faz o impensável. Consente.

O filho vai morar com a avó. Como toda avó, esta nossa senhora da história tinha todo o direito a ser mãe com açúcar. Mas não dá. O neto lhe chega coberto de manias, desequilibrado de horários, desconhecedor de respeitos, repleto de vontades. E a avó, criada em outro sistema, passa a endurecer o jogo. O menino não gosta... Um dia, resolve ir morar com o pai.

O pai fica emocionado. Abre cerveja com amigos. Olhos molhados, diz. Tive uma vitória, meu filho me escolheu. Quando um colega me confidenciou essa emoção, disse: meus pêsames. Não deu outra. Quinze dias depois estava aquele pai na Vara da Infância, ou no Conselho Tutelar, querendo dar o garoto pra alguém consertar! E quer saber como isso... ainda piora mais?! Incrível que possa ocorrer, não é? Pois ocorre. Nas escolas, professores se acostumam com alunos que tem 04 irmãos de 04 pais diferentes.

Pais demais, mães demais. Uma forma particular de orfandade. Inflação parental que desvaloriza o afeto real, o amor exigente que sempre deve ser o ensolarado amor de pai e de mãe. No excesso de pais e mães, demasia de facilidades e frouxidão. O garoto não obedece a ninguém, e aprende a manipular a todos. Quando não aprende a jogar uns contra os outros. Filhos assim crescem sem chão. Qualquer chuva os desabriga. Qualquer disciplina os afronta. Qualquer exigência da vida, eles explodem. É como chegam, ensinados a mentir, adestrados à frouxidão, treinados em manipulação de adultos, assim chegam, às pobres escolas desarmadas para tanta demanda psicoafetiva.

Não precisamos pôr crianças e adolescentes em presídios de adultos. Não precisamos de leis de proteção a professores. Todas essas medidas incorretas e paliativas atacam sintomas. Se queremos curar o câncer, precisamos é devolver às crianças os pais e mães – poucos, raros, únicos, ouro de mina - a que têm direito. E para isso é preciso revalorizar a família. Restituir seriedade ao casamento. Resgatar o espírito de renúncia e sacrifício que sempre presidiram a construção dos verdadeiros relacionamentos saudáveis. Renúncia e sacrifício que permitem colher resgates de afeto e recompensa de satisfação de proles trilhando virtuosos caminhos. A isso só chega se enfrentarmos o nosso egoísmo e combatermos a idiotia da paixonite que adolesce adultos em sentimento menor, insumo de produção do mercado capitalista.

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