foto Simone Mattos - reunião final na EM Paula Buarque
O Projeto ESCOLA DA PAZ, trabalhando o conceito de CIDADANIA ESCOLAR, visa a resgatar a autoridade dos pais, o respeito à escola e o senso de protagonismo dos alunos, que passa por obediência e compromisso. Saiba como funciona no Caderno de Apresentação e Orientações, em link na coluna à direita. - - : denilsoncdearaujo@gmail.com
O PROJETO ESCOLA DA PAZ, POR MIM CRIADO, E NO QUAL ATUAVA EM REPRESENTAÇÃO DA VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DE PETRÓPOLIS, FOI ENCERRADO.SE VOCÊ O ESTÁ CONHECENDO NESTA VISITA, FIQUE À VONTADE E VISITE O BLOG. HÁ MUITA COISA QUE PODE SER ÚTIL A VOCÊ, À SUA FAMÍLIA E À SUA ESCOLA. FOI UMA AVENTURA MUITO LINDA. COMPROVE.ESTAMOS REPENSANDO UM OUTRO MODELO A SER IMPLANTANDO, COM PARCERIA DA OSCIP "REVIVAS".POR ORA, SE DESEJAR ACOMPANHAR AS MINHAS ATIVIDADES E PALESTRAS, VÁ AO MEU BLOG PESSOAL: http://denilsoncdearaujo.blogspot.com/Obrigado! DenIlson Cardoso de Araújo.

sexta-feira, 1 de março de 2013

TURNO DE NÁUFRAGOS


Denilson Cardoso de Araújo


 Estudei no turno da noite. Gente que precisou comer e dar de comer, antes de pensar em estudar. Lá estavam, desenferrujando cérebros, queimando no giz os olhos já cansados do dia. Difícil ao professor o alcance da plena motivação dessa turma. Segunda-feira demandava aquecimento cerebral e motivacional que às vezes, só se completava na terça. Tarde demais: alguma matéria, pelo caminho ficara. Sexta-feira já era ritmo de frenagem, mirando o oásis domingueiro. Não raro, alguém cochilava na carteira. Mestres sensíveis e, melhor ainda, sensatos, respeitavam os tempos das pessoas, e o resultante tempo da turma, e obtinham resultados.

 Mas era um turno penoso. Adolescentes que se misturavam ali, respeitavam o ambiente. Percebiam um demarcar de territórios. Idade adulta, pensavam. No fim das contas, havia saudável mistura de juventude e maturidade apta a dar turmas virtuosas, de companheiros de jornada, que produziam formaturas bonitas, com lágrimas honestas.

Hoje, o quadro ficou preocupante. Multiplicam-se pelas redes alunos que claudicam no turno correspondente à idade e, por isso, acabam no turno da noite. Repetentes contumazes, porte físico incompatível com a turma de pequenos onde circulam. Uns se envergonham, outros, ao contrário, se fazem abusados xerifes de turma. É inadequada a situação. Algo há que ser feito. Mas mandar esses alunos para a noite pode ser atirá-los à indigência educacional sem retorno. Porque estão indo por errados motivos.

Palestro em escolas, já contei. Procuro separar alunos jovens dos mais velhos, e auditórios de filhos de plateias de pais, para efetividade no discurso. Mas palestras noturnas são espetáculos curiosos. A mistura estranha, nem sempre virtuosa. Em certa escola vi alunos adultos agrupados num canto, se protegendo do mar adolescente que tomava a plateia. E nestes, alguns não tinham ideia da série em que estavam. Mesmo! Piercings na língua, enganchados em namores inadequados, se anunciando pró-maconha na postura e nas indefectíveis pulseiras de cores jamaicanas. Perguntei quantos trabalhavam. A maioria, nada fazia. Um me confessou que... soltava pipa de dia! Qual o aproveitamento médio desse novo turno da noite? Ruim, dizem os mestres. Disciplina? Péssima, confirmam. Motivados estão? Não, muitos ali só vão cumprir a tabela do Bolsa Família. Finda a “regalia” que os obriga, vão engrossar os já assustadores índices de evasão noturna, hoje em 50%. É de preocupar. E muito. Mais uma vez caímos na tecla inevitável e estridente do UFC de matrículas a que o Brasil de estatísticas bonitas se entregou. Campeões de matrículas ficamos, campeões de analfabetismo funcional nos mantemos.

Ao invés de pôr alunos dificultosos no turno da noite, soluções outras deviam ser arranjadas. Primeiro, conscientização dos pais. Que acompanhem filhos com rigor, cobrando-lhes estudo, vendo-lhes notas, estudando com a escola melhores soluções para o aluno em problemas de aprendizado. Segundo, ao Estado compete o reforço escolar, com programas e métodos de aceleração. Naufragará, o aluno em atraso ao qual não se atira uma boia para que flutue de volta ao barco do aprendizado. Talvez ache uma ilha... deserta! Se não for, pior será. Porque todos esses náufragos que a nave da educação vai deixando pelo caminho não sabem como construir balsas de que carecem para sair da indigência acadêmica e, portanto, social. Seu futuro é sombrio. Se, hoje, completar escola já significa pouco, pois o aprendizado nem sempre é garantido - havendo analfabetos funcionais em faculdades, e bacharéis garis - imagine os problemas que a vida reservará a alegres adolescentes do turno da noite, que não completarão curso algum, farão filhos precoces, se envolverão com náufragos outros e se deliciarão com prazeres de náufragos, o que é véspera de afogamento. Um futuro inteiro está sendo abatido sem dó no momento em que você me lê. É o futuro desses náufragos, remetidos indevidamente ao turno da noite. Contra os seus direitos, contra as suas necessidades, contra o que a lei determina, contra o que a boa pedagogia recomenda.

Número que vi, de mais de 10 anos, dizia que 10% dos alunos do ensino fundamental são, veja bem a descrição: “multirrepetentes”. Desconfio que isso aumentou muito. Já em 2006 tínhamos repetência pior que o Camboja! Em 2011 superamos a maior taxa histórica de repetência no ensino médio, passando a liderar esse ranking negativo na América Latina... dá-lhe Brasil! 
 
Ao escrever essas linhas não esqueço do direito à educação dos demais alunos, que não merecem ficar ancorados ao imobilismo do aluno defasado. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação prevê como direito subjetivo do aluno a aceleração, com maior na sua educação. Há décadas, Lauro de Oliveira Lima, dizia da necessidade de se criar nas faculdades de pedagogia a cadeira de “aceleração da aprendizagem”. E defendia alunos em atraso em turmas especiais, métodos específicos e professores treinados a vencer o desafio de retorná-los ao ritmo adequado e ao nível correto. Então, voltariam às turmas regulares.

O turno da noite não pode virar turno de náufragos. Quem se afoga é o país. É urgente mudar o curso dessa viagem. Resgatar a autoridade da família e da escola, lembrar que educar é motivar, e cumprir a LDBE.

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