foto Simone Mattos - reunião final na EM Paula Buarque
O Projeto ESCOLA DA PAZ, trabalhando o conceito de CIDADANIA ESCOLAR, visa a resgatar a autoridade dos pais, o respeito à escola e o senso de protagonismo dos alunos, que passa por obediência e compromisso. Saiba como funciona no Caderno de Apresentação e Orientações, em link na coluna à direita. - - : denilsoncdearaujo@gmail.com
O PROJETO ESCOLA DA PAZ, POR MIM CRIADO, E NO QUAL ATUAVA EM REPRESENTAÇÃO DA VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE DE PETRÓPOLIS, FOI ENCERRADO.SE VOCÊ O ESTÁ CONHECENDO NESTA VISITA, FIQUE À VONTADE E VISITE O BLOG. HÁ MUITA COISA QUE PODE SER ÚTIL A VOCÊ, À SUA FAMÍLIA E À SUA ESCOLA. FOI UMA AVENTURA MUITO LINDA. COMPROVE.ESTAMOS REPENSANDO UM OUTRO MODELO A SER IMPLANTANDO, COM PARCERIA DA OSCIP "REVIVAS".POR ORA, SE DESEJAR ACOMPANHAR AS MINHAS ATIVIDADES E PALESTRAS, VÁ AO MEU BLOG PESSOAL: http://denilsoncdearaujo.blogspot.com/Obrigado! DenIlson Cardoso de Araújo.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

PAIS BERNARDINHO


Denilson Cardoso de Araújo
 
 Anderson Silva, gênio do MMA, chegou ao treino. Assistira vídeos das últimas lutas e declarou, com convicção. Estou carente no golpeamento de pernas, baixo alcance no giro dos pés, vou treinar muay thay. Os treinadores olharam o lutador, estranhando atitude, diagnóstico e prognóstico. Você está errado. Vimos os mesmos vídeos, somos seus treinadores e o seu problema atual é fraca agilidade na esquiva. Temos programação e metas, rapaz. Você precisa se concentrar é no boxe, para melhorar o jogo de pernas e o balanço do quadril. A coisa vira discussão. Anderson quer muay thay. Os treinadores, boxe. A Academia pára, na expectativa do desenrolar do embate. 
 
 Essa história fictícia ilustra momento de palestra que faço nas escolas. A essa altura, já dissertei bastante sobre a importância de alunos respeitarem e obedecerem pais e professores, conforme prescrevem a lei e as necessidades da sua formação. Findado o pequeno conto, questiono. O que aconteceu no tatame naquele dia? O Anderson treinou boxe ou muay thay? Levanta a mão aí! As mãos erguidas se dividem. A maior parte fica na dúvida. É quando afirmo, com a maior ênfase possível. O Anderson treinou boxe naquele dia, rapá! Ele quer ser campeão do mundo! O melhor lutador do mundo! E quem quer ser campeão aprende que é necessário obedecer treinador!
 
O mote da pequena ficção pode ser o César Cielo. Chega ao treino da manhã contrariado com o frio inesperado. Problemas no aquecimento da piscina. Meteu o pé na água, sentiu o inverno líquido e decretou. Hoje não treino, água fria. Outros nadadores já se exercitavam. O treinador disse: -Tá maluco rapaz, temos competição, nossa programação te exige 40 piscinas hoje. Na água, rapaz! Não vou! A piscina ficou tensa, descrevo, e repito o ritual de perguntas, levantamento de mãos e a conclusão que leva, na humildade do aprendizado, ao cumprimento de regras, obediência ao treinador, à medalha de ouro e ao recorde mundial.
 
Filhos há que jamais serão vencedores de nada, ficarão à margem do caminho, aborrecentes de 30 anos, desempregados, semianalfabetos e sem camisa, lesmas soltando pipa em pleno horário comercial na comunidade, porque não aprenderam a respeitar e obedecer. Há pais que - por não terem aprendido a determinar, comandar - jamais terão nos olhos doces lágrimas luzentes da alegria de ver filhos nos pódios da vida, no emprego decente, na família digna, no reconhecimento honrado. Terão as lágrimas amargas de frustração e abandono.
 
Quem já viu o Bernardinho à beira de uma quadra assustou-se com o treinador apoplético, sanguíneo, furioso, exigente. E absolutamente competente e vencedor. No início da sua carreira, ficávamos com pena das meninas da seleção feminina de vôlei. Flagrávamos lágrima em uma ou outra atleta. Achamos exagero, crueldade, cobrança excessiva. Não era. A carreira de Bernardinho provou o quanto estava certo nos métodos. Deles faz parte, inescapavelmente, a sua personalidade. Perguntem aos jogadores se desejam abandonar este treinador excêntrico? Não, porque querem ser campeões de tudo, como são.
 
Há, sim, treinadores de fala mansa. Podem ser competentes, como Parreira o foi, dando-nos título mundial no futebol. Mas com fala mansa ou fervor, aquilo de que nenhum treinador campeão abrirá mão é da autoridade. Felipão foi campeão mundial em 2002 abrindo mão de Romário, contra clamor popular que o reivindicava. O mesmo Felipão ganhou a Copa das Confederações de 2013, deixando de lado apelos por Ronaldinho Gaúcho. Veteranos cheios de exigências, más influências à obediência dos grupos, não tiveram vez com o treinador. Pois Bernardinho, em dada altura, teve sob comando o maior gênio que já apareceu na posição de levantador. Melhor jogador do Mundial, Ricardinho era nome certo para um trono duradouro na posição, no Brasil e no mundo. Às vésperas do Pan Americano do Rio, em 2007, entretanto, o atleta resolveu afrontar o treinador com exigências, desobediências e desagregação do grupo. Bernardinho foi claro. Perco o melhor jogador do mundo mas não perco a harmonia do grupo, que passava pela preservação da sua autoridade de treinador. Sob vaias, críticas, receios e sustos, cortou Ricardinho da seleção. Ganhou o Pan. Ricardinho foi para a Europa e apagou-se, não foi o mesmo, porque abriu mão do comando que o exigiria a ponto de mantê-lo sempre no mais alto nível que ele podia alcançar.
 
Nessas histórias aos alunos, já chamei a Equipe Escolar à frente. E digo. Esses profissionais aqui, que tantas vezes vocês desprezam e agridem, são os treinadores dos Anderson Silva, dos Cesar Cielos, dos campeões da vida que vocês podem ser. Por isso, peço aplausos para eles! Os aplausos chegam, já entusiasmados. E quero que o façam de pé! E de pé, eles ovacionam os professores, inspetores e merendeiras. E, aos pais e aos professores digo, sejam Bernadinho! Às vezes, a par de ensinar, educar e apoiar, é necessário ser severo com o adolescente, deixá-lo na reserva, cortá-lo da seleção. Aliás, cabe mencionar que o substituto de Ricardinho foi o próprio filho do técnico. Corajoso, esse pai. Bancou e, com o desafio, melhorou o jogador que sabia bom, e não protegeu o filho das vaias estrondosas que o menino recebeu. Rigor de pai e coerência de treinador melhoraram o caráter do filho e o brio do atleta. Bruno em 2012 foi eleito o melhor do mundo. Assim é. Pais Bernardinhos fazem famílias campeãs.
 
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Originalmente publicado em
denilsoncdearaujo.blogspot.com

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